A MINHA EXPERIÊNCIA NUM CENTRO PMA PÚBLICO – Parte II

por Monica Sona

…Continuação (para quem não acompanhou clicar AQUI)

Então saí da minha consulta com uma requisição para fazer uma histeroscopia para ver se o mioma estava dentro ou fora do útero. É um exame rápido, um pouco desconfortável não posso dizer que tenha sentido dor mas senti um desconforto grande.

O mioma estava fora do útero e por isso estava afastada a ideia de ter sido responsável pelo aborto e não precisávamos de o tirar. Tinha novamente o caminho livre para fazer a transferência dos meus embriões que tinha criopreservado.

Por esse ano ter sido muito intenso tanto a nível hormonal como emocional decidi não fazer mais nada em 2018, até porque o ano estava quase a acabar.

Em Janeiro de 2019 assim que comecei um ciclo novo liguei para o SEMER (departamento que gere os tratamentos) para iniciar um ciclo para fazer a TEC (transferência de embriões criopreservados).

Os médicos gerem-se por protocolos e na altura o que estava em “vigor” era começar estradiol comprimidos logo no primeiro dia do ciclo e tomar 1 comprimido de 12 em 12 horas, depois ao 12º dia tinha a ecografia para avaliar o espessamento do endométrio e começa a tomar progesterona no 14º dia. Neste primeiro mês nem cheguei a tomar a progesterona porque o endométrio não tinha o espessamento desejado.

No mês seguinte exactamente o mesmo protocolo, mas aqui o endométrio já estava do tamanho desejado por isso marcaram-me a TEC.

Quando nos marcam a TEC isto não quer dizer nada, pois se os valores hormonais não estiverem nos níveis correctos não se faz, pois um embrião é muito valioso e não se vai correr o risco de se perder.

No dia da eco e das análises ao sangue temos de estar no hospital por volta das 8h da manhã. Os resultados só saem por volta das 11h da manhã e ai somos chamadas ao gabinete do médico para saber se fazemos ou não a TEC.

Sim, leram bem ficamos praticamente a manhã toda no hospital.

O doseamento que eles querem ver é o nível de progesterona e só fazem a TEC se tivermos no mínimo 9 ng/ml. O meu doseamento deu 7 e por isso não fiz TEC.

Isto é muito desgastante porque tomamos hormonas, criamos expectativas, temos de faltar várias vezes ao trabalho (uma vez que estou num hospital a 250 km), esperar horas a fio na sala de espera a ouvir a voz estridente e malcriada da recepcionista do secretariado, sim porque se esta senhora pensa que se safa do meu relato está completamente enganada.

Estar no atendimento ao público não é uma função fácil, embora pareça, e trabalhar num hospital a atender utentes tem de ter gente competente e empática. De cada vez que tinha de me dirigir aquela senhora só pensava no monte de gente desempregada e competente que ela está a “roubar” lugar.

Enfim, ultrapassando a mal educação, no mês seguinte, fui submetida ao mesmo protocolo a diferença é que aumentaram as dosagens. Fiz eco e passado uns dias nova tentativa para TEC e mais uma vez a dosagem de progesterona baixa, logo não se fez.

Então andei eu durante quase 5 meses sempre a subir dosagens de estrogénio e progesterona porque o protocolo exigia uma progesterona no dia da TEC de no mínimo 9 ng/ml e sem nunca atingir esse valor ficando sempre abaixo do pretendido, e quanto mais subia a dosagem mais baixo o valor era.

Então nesse mês disse que queria fazer a TEC na mesma, assumia a responsabilidade de poder não dar certo. Fiz a transferência de um embrião e passados 15 dias o teste Beta HCG deu negativo.

Fiquei triste, mas não arrasada afinal ainda tinha mais dois embriões criopreservados.

É importante nos informarmos, questionarmos e sobretudo nunca achar que as coisas são normais e por isso nunca nos habituarmos ou ficar conformados.

Depois de ter de gerir tanta tentativa falhada, expectativas e saber que o meu tempo estava a passar fiquei cansada  e sugeri à médica fazer a TEC em ciclo natural.

E o que é isto de ciclo natural? É basicamente não tomar nada apenas a progesterona apartir do 14ºdia de ciclo. E foi nessa tentativa de TEC que obtive o meu melhor nível de progesterona, acima dos 14.

Fiquei super feliz e deram ordem para descongelar os 2 embriões. Passaram as 11h da manhã, as 11h30m, chegou o meio dia e ninguém me chamava. Fui perguntar à enfermeira o que se passava e ela disse que o médico já me chamava. Fiquei com a pulga atrás da orelha, porque nestes casos são as enfermeiras que nos chamam para nos prepararmos para a TEC.

Se já estava ansiosa, comecei a ficar muito nervosa e a pensar no pior, que um dos embriões não tenha resistido e tenha degenerado.

Fui chamada pelo médico quase perto da 12h30 (estava no hospital desde as 8h) e ele com um olhar serio olhou para mim e disse que nenhum dos meus embriões tinha resistido.

Naquele momento o meu mundo parou, os meus olhos encheram-se de lágrimas mas nenhuma caiu mantive-me firme porque queria sair dali o mais rápido possível e com o resto de dignidade que me sobrava.

O médico disse que uma vez que já tinha 40 anos não podia voltar a fazer FIV e que por isso me daria alta. Entrei no carro e chorei tudo o que tinha de chorar.

Na entrada da autoestrada para Lisboa o meu marido ao ver-me chorar copiosamente diz, “se julgas que vamos ficar por aqui estás muito enganada, vê agora o número da Malo Ginemed e marca agora a consulta”.

E a consulta foi marcada.

 

A minha avaliação em relação ao serviço público (CHUC):
Coisas negativas:
  • Somos avaliadas por todos os médicos e mais alguns, como nem sempre o nosso ciclo calha aos mesmos dias da semana apanhamos vários médicos, depois cada cabeça sua sentença
  • Dão-nos um carimbo na testa tipo chapa 5 e todas fazem os mesmo tipo de protocolo
  • Aquele departamento não deve ter avaliação de funcionários porque se tivesse aquela senhora do secretariado ou tinha mudado de atitude ou já não estava lá.
  • Os médicos são frios e distantes ( e falo disto com modo de comparação de outros centros)
  • Não há um sistema de senhas para gerir as chegadas das pessoas, temos de estar atentas à nossa vez
  • Mandam-nos estar muitas vezes às 8h e só somos chamadas perto das 10h30/11h isto para ecografia
Coisas positivas:
  • Uma equipa de enfermagem espetacular, super atenciosas assim como as auxiliares, mas há uma enfermeira que trouxe no coração por ser especial, a enfermeira Carmo
  • As senhoras do SEMER também são umas queridas
  • As condições dos quartos, das salas de operação, das salas de ecografias são muito boas.

 

Dificuldades que senti por ser assistida num hospital cerca de 250 Km de casa:

Houve dias que saímos de Lisboa por volta das 5h30 para estar pontualmente no hospital por volta das 8h. Houve alturas que tínhamos de estar presentes no hospital dia sim dia não para avaliação hormonal e ecografica e de cada vez que íamos ao hospital entravamos as 8h e só saímos por volta do 12h/13h.

Nós como temos um carro eléctrico as despesas foram bastante mais reduzidas comparadas com um carro convencional., apenas pagávamos as portagens, pois os carregamentos eléctricos neste ano eram gratuitos. Soube de casos de casais que vinham de mais longe do Algarve e de transportes públicos.

Por isso o que quero vos dizer é que nada será um entrave, que as barreiras são feitas na nossa própria cabeça, que quando temos vontade vamos até ao fim do mundo.

No próximo post vou contar a minha experiência no centro de PMA privado que escolhemos, Malo Ginemed.

 

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1 comentário

A minha experiência num centro PMA privado - Malo Ginemed - O Melhor Vem A Seguir 15 de Dezembro, 2020 - 12:26

[…] referi no post anterior (AQUI) marquei a consulta para a clinica Malo Ginemed ainda estava a caminho de Lisboa.  Escolhemos este […]

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